Quando
era criança costumava passar uma parte das minhas férias no interior de São
Paulo, na casa dos meus avós paternos.
Era
uma bagunça, sempre havia um monte de gente : mil primos, mil tios e tias,
mil pessoas que entravam e saiam da casa dia e noite, uma barulheira.
As
vezes sinto falta disso, mas sinto principalmente falta da infância livre que
eu tinha quando ia para lá e do contato com a natureza.
A vida de interior funciona num
ritmo mais lento. A televisão não pegava direito, então eu passava o dia e a
noite na rua, batendo papo com as pessoas, brincando como se não houvesse amanhã.
No fundo da casa dos meus avós havia
um pomar/galinheiro e uma goiabeira.
O pé
de goiaba servia de balanço. Uma grande corda e um pedaço de madeira
transformavam nossas tardes em alegria (e brigas para ver de quem era a vez de
balançar).
No pomar a gente fazia arte. Já
construímos casa na árvore, mas como a gente não sabia montar nada nos
galhos, colocamos as madeiras encostadas no tronco mesmo. Durante o dia
a gente brincava de casinha e à noite tentávamos fazer fogueira, até que um
adulto viesse nos impedir.
Atrás
da casa dos meus avós havia um terreno meio abandonado, onde meu vô guardava o
trator dele. As vezes passávamos o dia brincando em cima do trator, fingindo
que estávamos passeando por fazendas. Minha mãe não gostava que eu passava por
lá, pois tinha medo de cobras …
Teve
uma época do ano que a cidade foi infestada por borboletas. Borboletas,
mariposas de todos os tipos e tamanhos. A gente brincava de caçar borboleta com
uma rede improvisada com um arame e saco plástico … hoje teria muita dó de pegar
uma borboleta, elas são mais bonitas soltas.
No
final, estávamos tão habituados em caçar as borboletas que fazíamos isso com a
mão. Esperávamos elas se fecharem e com dois dedos elas estavam nas nossas mãos.
Tínha que tomar cuidado para não olhar para a borboleta, pois diziam que ela
soltava um líquido que cegava (criança acredita em tudo) !!!
A
borboleta que mais me impressionou foi aquela com olho de coruja nas asas.
Fiquei emocionada quando a vi cara a cara. Que tinha visto em livros era realidade e
existia !
Outra vez a cidade foi infestada por sapos. Pronto já era
diversão garantida sair com uma pá cheia de sal para tacar nos sapos e
afastá-los. Crianças podem ser muito cruéis !
Lembro que também quando saíamos da cidade e íamos para o
sítio, tomar banho de rio. Minha mãe odiava isso, acho que ela tinha medo que
eu pegasse vermes. No final ela tinha razão, a gente nadava em rios ao lado das
vacas e para pegar uma esquistossomose ou tênia era facinho facinho. Nunca tive
nada, talvez por sorte.
Eu me sentia livre e adorava ver na prática o que aprendia
nos livros, sobretudo em termos de animais e plantas. Já até vi uma cobra coral
e tentei descobrir se era uma verdadeira ou falsa … não lembro da minha conclusão !
Infância de cidade não é mesma coisa que infância no campo.
Neste último você é mais livre, tem contato com a natureza e aprende a se defender
e se virar melhor. Tem coisas que os livros não ensinam.
Ubirajara - 02/10: Fazenda.