Quando
eu estava preparando a viagem da Islândia, um amigo recomendou a leitura das
sagas islândesas para eu entrar no clima histórico do país.
As
sagas foram compostas por vários autores ao longo do tempo e elas contam a
história dos povos nórdicos (vikings) e celtas que se estabeleceram na Islândia
entre os séculos X e XI. Elas começaram a ser escritas no século XIII, XIV (um pouco mais sobre as sagas nesse site: http://sagadb.org/).
Li duas das sagas mais populares e
as adorei. A saga de Egil é uma história de honra que passa de geração à
geração até chegar no destemido Egil Skallagrimsson que enfrenta poderosos
noruegueses, suecos e escosseses. Egil é banido da Noruega e se estabele
na Islândia que acabara de ser descoberta.
Egil,
seus servidores, amigos e algumas famílias se estabelecem na cidade que é hoje
Bogarnes e exploram a região, dando nome a rios, regiões, usando os recursos
naturais disponíveis e estabelecendo vilarejos.
A
palavra de honra é algo muito respeitado na Islândia da época. Injúrias são
punidas com a morte ou com compensasões financeiras. Ao mesmo tempo que a
justiça da época é rude e cruel (aos nossos olhos) a bondade e confiança são
virtudes exercitadas no dia a dia desse povo.
Apesar
da simplicidade da escrita, das descrições infinitas da árvore genealógica de
cada personagem e da brutalidade das ações, a história é cativante e detalha
muitos dos costumes vikings da época.
Já a
saga de Njal é um doce. Njal é uma figura amada, não é violento. Ele é até
« zoado » pela população, pois não tem barba. Barba naquela época era
símbolo de virilidade. Njal é o símbolo da justiça pacífica, que prefere chegar
à um acordo (financeiro ou não) ao invés de derrubar sangue no solo sem passar
por uma decisão do « thing » (espécie de júri).
Njal
é amigo de Gunnar, um formidável guerreiro que foi exilado na Islândia. Essa
saga deixa claro o funcionamento da justiça na Islândia, sua evolução e até as
mudanças que a religião católica trouxeram ao país.
Como
já expliquei no post sobre Thingvellir, desde a descoberta da Islândia, as
decisões nas comunidades eram feitas nos « things », espécie de júri/parlamento,
onde cada um expunha sua posição. Essa saga retrata muito bem o funcionamento
dos things e até diz como o « Thingvellir » foi criado, por
iniciativa do Njal.
Essa
história mostra violência, mas também aborda um lado mais sentimental através
do personagem Njal. Quase chorei com o que aconteceu com meu personagem
preferido, uma injustiça que só poderia ser vingada com sangue derramado.
As sagas islândesas me fizeram viajar no tempo e para outro
país hostil capaz de acolher homens tão bravos e honrosos. Egil e Njal se
tornaram heróis !