10 de agosto de 2013

O cruzeiro

… da série Férias de verão Agosto 2012

No dia seguinte à visita de Trieste nós embarcamos no cruzeiro.
Deixamos nossas malas no pé do navio e seguimos para a entrada da embarcação. Eram mais de sete andares de cabines, restaurantes, bares e diversão. Mais de duas mil pessoas à bordo (contando com a tripulação).

Trieste - 08/2012: Costa Classica. 

Trieste - 08/2012: Costa Classica. 

 Ao contrário do que pensávamos, havia mais famílias do que casais e pessoas de idade. Tive a impressão que a italianada toda estava no barco, com suas crianças barulhentas e esfomeadas.

Depois do acidente com o Costa Concórdia, todo mundo tinha que assistir um vídeo e fazer um treinamento de emergência. Já fiquei esperta onde tinha colete salva-vidas e de onde saiam os barcos salva-vidas …

Passado o treinamento, era a hora de aproveitar dos inúmeros coquetéis oferecidos nos bares, pois não havia a menor chance de eu entrar no que eles chamavam de piscina ou jacuzi …
Quando vi oito pessoas disputando o jacuzi, com todas as bactérias possíveis e impossíveis do mundo, deixei para lá a idéia de tostar no sol.

Trieste - 08/2012: PArte de cima do navio. A piscina é o pequeno quadrado no centro. 

No primeiro, segundo dia, tudo é alegria. Você descobre a maravilha das bebidas open bar (claro pagando um menu mais caro), os restaurantes com comida à vontade, o espetáculo engraçadinho da noite, o casino, o pôr-do-sol no mar, o dormir numa cidade e acordar em outra.

No meio da viagem já não aguenta mais os doces que têm o mesmo gosto, o coquetel fraco sem muito rum, a mulher do « B » de bingo, bongo, bongo, os garçons mega serviais, a ducha que não funciona mais direito, a criançada gritando …

Aí você começa a prestar atenção nos personagens da viagem : o casal que esta em todas as brincadeiras, o casal de gostosos, a família mais gritona, as mulheres mais peruas, os tiozões, a criançadinha que pula na piscina e em qualquer outro lugar do navio, o pega-pega entre os monitores do barco e as histórias sórdidas (contatadas por um tripulante brasileiro – óbvio, estamos em todos os lugares !) da tripulação.

Falei, falei, mas para ir direto ao que interessa, vou falar dos prós e contras de um cruzeiro, na minha opinião.

Depois de alguns dias, a rotina do barco começou a me irritar. Todas tardes e noites eram a mesma coisa. Chega do passeio, vai tomar um banho, vê uma atividade, janta, faz outra atividade ou vai dar volta no navio, acorda, café da manhã, passeio, almoço, passeio e tudo recomeça.

Já não aguentava mais a mesma comida e a servialidade absurda dos garçons. Comecei a ver injustiças que me incomodaram. A tripulação trabalhava sem muito repouso. O garçon da janta terminava à meia-noite e já estava de pé as seis da manhã. Não tinha final de semana e ganha uma merreca. Achei o sistema explorador, sabendo que eles só ficam dois meses em terra, se não emendarem um cruzeiro no outro.

Não é a vida de sonhos que todo mundo acha … viajar o mundo, ganhar dinheiro e viver uma vida fácil.

Além das condições de trabalho, fiquei surpresa com a quantidade de comida desperdiçada. Os buffets tinham comida infinita e as pessoas trocavam de pratos sem mesmo encostar na comida. Dava dó ver tanta coisa deixada de lado.

No jantar era a mesma coisa. Você podia pegar quantos pratos quisessem, eles preparavam um pouco de tudo e o que sobrava era jogado fora, no mar. Num dos dias, visitamos a cozinha, onde nos mostraram que se a comida esfriasse, ela era jogada fora.

Não gostei de ver que meu dinheiro estava sendo usado para suportar esse tipo de modelo econômico.

Outra coisa que me desagradou foi a véspera do último dia e viagem. Nessa noite a tripulação faz uma lavagem cerebral nos passageiros. Eles montam pequenos espetáculos, mostram vídeos e depois explicam que temos que preencher um formulário e se não dermos notas boas apra eles, a tripulação não ganhará um dia de folga no mês !

Eles pedem na cara dura para que os notemos com a nota máxima, mesmo se há coisas erradas e que não são excelentes.

Aí você de coração mole, que viu seu garçon do jantar durante sete dias, sua camareira sorridente e sempre pronta para resolver pequenos problemas, esquece todos os pequenos problemas e injustiças e dá nota máxima para o barco.

Não gosto de chantagem emocional para desfarçar coisas que não estão corretas.

Bom depois disso tudo, a cerise sur le gâteau (a cereja do bolo) ficou para o final do cruzeiro. No último dia nos cobraram uma bebida que não tínhamos pego do frigobar (por quê eu pegaria coisas pagas do frigobar se podia pegar tudo de graça no bar e levar para o quarto ???).

Quando fomos soldar a conta, reclamamos da bebida contada à mais. Para nossa surpresa, havia uma fila de mais de vinte pessoas com o mesmo problema ! Para sermos reembolsados, tínhamos que dar nossos passaportes. Mas olha que surpresa, eles estavam com nossos passaportes (pegaram no começo da viagem) e só os devolveria por volta das 10h. O fechamento do saldo era até às 8h da manhã. Bom sem os passaportes, impossível ter algum reembolso …

Só sei que acabamos a viagem revoltadíssimos e me questiono se pegarei novamente um cruzeiro. A única coisa que me faria pegar esse tipo de passeio seria o roteiro. É muito prático e agradável dormir num lugar e acordar no outro. Você não se estressa com transporte nem com comida, com nada. Esse é o lado bom dos cruzeiros e os pores-do-sol também …

Trieste - 08/2012: Partindo de Trieste para novas destinações!

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