Era começo final da primavera e
minha primeira entrevista de estágio. A indústria ficava em Angers, uma cidade
à meia hora de trem de Nantes. Reservei minha passagem, num trem pouco
frequente e que parava numa estação próxima ao local da entrevista.
Pego o trem e ele pára na estação.
Par minha surpresa, a estação era no meio da campagne (meio do mato, fazenda, longe da cidade). Tinha os trilhos
e uma faixa cimentada para você não descer diretamente na terra. Só, mais
nenhum sinal de vida.
Mais nada em volta a não ser um
campo com vacas e uns galpões abandonados. Vixi, tô f#dida, eu pensei.
Caminhei um pouco no meio do nada
para ver se eu achava a rua que me levava ao local do estágio. Olhava para o
lado, via as vaquinhas mugindo e tentava não me desesperar. Tossia. Estava um
pouco doente, com gripe na fase de tosse aguda. Quando a garganta raspa e você
não pára de tossir. Ainda bem que eu tinha tempo ...
Avistei ao longe um restaurante.
Parei nele para confirmar meu itinerário. Fui recebida por dois caminhoneiros
desdentados (não tenho nada contra quem não dentes, mas a cena era tão engraçada)
e meio bêbados. Pensei: onde fui me meter ...
Eles muito simpáticos me indicaram o
caminho e fizeram alguma piada que só eu não entendi. Deixei para lá e ficava
repetindo na cabeça o que eu queria falar durante a entrevista.
Cheguei na indústria e as pessoas
que me entrestariam me receberam. Entrei na sala, comecei a falar e tive uma
crise de tosse. Daquelas de não conseguir falar, respirar, de chorar. Lágrimas
caiam do meu rosto. Eu tentando respirar, uma assoadinha no nariz, pronto, a
tosse parara.
Retomo a palavra e o entrevistador
me interrompe:
- Mademoiselle, você não quer
ir ao banheiro tomar uma água, lavar seu rosto?
- Não Monsieur, não precisa,
já estou melhor, obrigada.
Perguntas vêm, respostas vão. Nós
saímos da sala para me mostrar a fábrica. Aí ele me fala:
- Mademoiselle, o banheiro é
ali. Sinta-se à vontade para ir se quiser.
- Muito obrigada Monsieur,
vamos conhecer a fábrica antes.
Conheço a fábrica, sou apresentada
para alguns funcionários, me mostram o chefe. A entrevista termina e me chamam
para tomar um café.
Aproveito a informalidade e decido
passar no banheiro. Depois de usar o banheiro vou lavar as mãos e me olho no
espelho.
Aquele frio na barriga sobe até a
cabeça, fico vermelha de vergonha. Queria ser um avestruz para enfiar a cabeça
num buraco.
Sim, eu estava usando rímel !!! E
quando chorei de tossir e enxuguei minhas lágrimas, fiquei com aquele traço
preto delineando as bochechas, aquela vergonha alheia.
Um filme passou na minha cabeça: o
entrevistador me convidando ir ao banheiro “lavar o rosto”, eu fazendo
entrevista igual uma palhaça, eu recusando uma passada ao banheiro, eu sendo
apresentada para deus e todo mundo com cara de palhaça!!
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