20 de agosto de 2012

Devaneios

Tempo é uma coisa que às vezes eu queria ter em dobro, triplo, mas às vezes gostaria de ter metade, um terço.
Explicação: gostaria de ter mais tempo para viajar, cuidar de mim, fazer uma atividade, sair com amigos, ficar com a família. Porém gostaria de ter menos tempo não otimizado no transporte, no trabalho, no supermercado, nas administrações públicas e por aí vai.

Por exemplo, agora eu gostaria que o meu dia de trabalho fosse dividido em dez. Gostaria de ter a cara dura de voltar para casa às 14h da tarde! Há uma hora eu olhei para o relógio e era 13h30. Li vários artigos na Internet, apaguei e-mails velhos, limpei pastas antigas. Só passou uma hora e agora me deparo com tempo de trabalho livre, em chômage technique (desemprego técnico – quer dizer que você não tem trabalho para fazer e tourne les pouces, roda os dedões, enquanto você espera serviço chegar).

Odeio chômage technique, sempre tenho sensação de tempo perdido, não otimizado. Poderia fazer as soldes (liquidação), passar roupa, preparar um bolinho, assistir seriado/filme, mas não, tenho que ficar à toa, olhando para a tela do computador ou dando voltinha entre o banheiro e a cafeteria.

Por que quando eu faço algo legal o tempo passa rápido? Por que agora o tempo não passa rápido e o fim do dia não chega logo?
É exatamente nessas situações que eu consigo entender a teoria de relatividade (divagação totaaaaal – só para clarificar, não fumei nem bebi nada, sou pisciana e dizem que este signo gosta de devanear). O mesmo tempo “passa mais rápido” ou “passa mais devagar” de acordo com o referencial.
Não é preciso viajar na velocidade da luz para descobrir isso, é só sentir o gostinho da vida moderna onde laze (eu traduzo como ócio) é perda de tempo, onde time is money (tempo é dinheiro) e não pode ser desperdiçado.

Outro dia estava discutindo com uma amiga e estávamos comentando quanto tempo fazia que não sentávamos num sofá e ficávamos vendo a vida passar. Sem fazer nada, só olhando para o teto, parede, vendo as moscas passarem.

Sim faz muito tempo que eu não faço “nada”. Sempre tenho essa ânsia de aproveitar/otimizar ao máximo meu precioso tempo. E como disse minha amiga, no final a gente nem dorme direito, pois quando você deita na cama, mil coisas passam pela cabeça. Esse é o único momento em que paramos para pensar, deixar a cachola se exprimir.

Se nós nos dessemos tempo para fazer “nada” e ficar parado refletindo, talvez dormiríamos melhor (menos insônia), resolveríamos melhor nossos problemas, tomaríamos decisões mais certeiras, lembraríamos mais que somos seres humanos que pensam.

Outro dia li um artigo de um psicólogo ou filósofo, dizendo que a geração petite poucette (pequeno polegar, pois hoje tudo é feito com um clique, um escorregar de dedo – ótimo artigo de Michel Serres sobre a nova geração confrontada às technologias do momento : http://www.liberation.fr/culture/01012357658-petite-poucette-la-generation-mutante) precisa pensar mais.

O mundo moderno, esta época que aqui vivemos, está inundada de informações e novas tecnologias. Não paramos nunca, às vezes por vontade própria, pois queremos fazer o máximo de coisas possíveis, às vezes porque o mundo que nos rodeia nos distrai o tempo todo com mil e uma informações. Esse profissional disse que o ideal é parar e pensar por horas numa semana. O ato de “pensar” ajuda a regular estresse, a argumentar, a melhorar o intelecto, a criatividade, a ser uma pessoa mais estável (menos apavorada, anciosa), etc.
Ele também dizia que os grandes pensadores, matemáticos, filósofos, inventores de séculos atràs, passavam boa parte do tempo deles pensando, observando, vendo a vida passar.

Talvez deveríamos incluir esse “matar tempo” na nossa agenda de atividades diária e quem sabe a correria desenfreada (essa é a sensação que tenho todos os dias) de transporte-trabalho-cama (expressão traduzida da frances: metro-boulot-dodo-metro-boulot-dodo-metro ... ad infinitum) se acalme um pouco.

Depois desse devaneio acho que vou aproveitar o marasmo para “pensar em nada”, antes que meu chefe venha me perguntar (leia encher o saco) algo.









Um comentário:

Anônimo disse...

hahah cuidado: de pensar morreu um burro!!!!