Quando
cheguei na França para trabalhar eu precisava arranjar um lugar para morar.
Não
tinha mais pai e mãe para me acolher e me sustentar, era eu por mim mesma.
Na
primeira semana fiquei na casa de um amigo e depois arranjei um apartamento
(sublocação) de um brasileiro por um mês, enquanto eu procurava meu canto
definitivo.
Aqui
na França tem um site que se chama PAP e que coloca em relação direta
proprietários e locatários, sem passar pour uma agência imobiliária. Isso
permite economizar um mês de aluguel que corresponde aos honorários da agência
(que não serve para nada, além de arrancar seu dinheiro).
Durante um mês eu não saía da lanhouse e
desse site. E toda vez era a mesma coisa: fila de 30 pessoas para um
apartamento de 15m² tosco e caríssimo, dossier rejeitado porque não tinha
fiador francês, dossier rejeitado porque ainda estava em período de aviso
prévio na empresa.
Ou
seja, durante esse mês eu não consegui nada porque meu dossier não era bom. O
fato de não ter fiador e de ter começado à trabalhar não me ajudavam. Na
França, quando você começa a trabalhar, fica em período de aviso prévio de 4
meses (podendo ser renovado por 3 meses). Nesse tempo, a empresa e você podem
romper o contrato de trabalho quando quiserem.
Para
resumir, por potencialmente 7 meses você não consegue casa, nem empréstimo na
França. Só consegue se tiver fiadores ricos e boas garantias.
Passado o mês, comecei a me
desesperar. Foi andando perdida na rua que achei uma agência onde eles alugavam
apartamentos temporários. Eu me disse que poderia ser uma boa solução e
que poderia ficar três meses num desses apartamentos esperando o período de
aviso prévio passar.
Aluguei
um apartamento (o olho da cara) no centro de Paris e como não tinha fiador,
tive que pagar os meses de aluguel avançado (ainda bem que tinha economizado
meu estágio).
Entro
no apartamento num sábado, no domingo à noite (véspera do início da minha nova
missão no trabalho) estou deitada dormindo e ouço um barulho de água caindo no
chão.
Levanto
com os pés na água quente e me desespero. Um dos canos de água quente se rompeu
e minha casa estava sendo alagada em questão de minutos. Nessas situações não
podemos nos desesperar, mas eu me desesperei. Bati na porta de todos os
vizinhos, ninguém respondia. Liguei para os bombeiros e me mandaram ligar para
um encanador.
Serviços
na França são caros e não preciso nem dizer que uma intervenção no domingo à
noite durante as férias escolares custou a « peau des fesses » (a pele do bumbum – expressão francesa para
dizer que algo é caro).
Na
segunda pela manhã começo na missão nova e já tenho que explicar para a chefe
que preciso sair mais cedo para resolver problema de inundação … já começo
queimando meu filme.
Passo
na agência imobiliária para tentar usar a garantia que todo mundo faz quando
entra num apartamento alugado e no final eles me reembolsam (pelo menos essa
agência serviu para alguma coisa).
Uma
semana antes de sair desse apartamento, depois de muita procura e com aviso
prévio terminado, uma boa alma resolve alugar seu apartamento para uma jovem
brasileira sem fiador.
Foi
assim que eu achei meu cúbiculo francês onde passei três anos de alegria em
Paris !!
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