3 de julho de 2013

30 Memórias dos 30 (11)

Quando cheguei na França para trabalhar eu precisava arranjar um lugar para morar.
Não tinha mais pai e mãe para me acolher e me sustentar, era eu por mim mesma.

Na primeira semana fiquei na casa de um amigo e depois arranjei um apartamento (sublocação) de um brasileiro por um mês, enquanto eu procurava meu canto definitivo.

Aqui na França tem um site que se chama PAP e que coloca em relação direta proprietários e locatários, sem passar pour uma agência imobiliária. Isso permite economizar um mês de aluguel que corresponde aos honorários da agência (que não serve para nada, além de arrancar seu dinheiro).

Durante um mês eu não saía da lanhouse e desse site. E toda vez era a mesma coisa: fila de 30 pessoas para um apartamento de 15m² tosco e caríssimo, dossier rejeitado porque não tinha fiador francês, dossier rejeitado porque ainda estava em período de aviso prévio na empresa.

Ou seja, durante esse mês eu não consegui nada porque meu dossier não era bom. O fato de não ter fiador e de ter começado à trabalhar não me ajudavam. Na França, quando você começa a trabalhar, fica em período de aviso prévio de 4 meses (podendo ser renovado por 3 meses). Nesse tempo, a empresa e você podem romper o contrato de trabalho quando quiserem.
Para resumir, por potencialmente 7 meses você não consegue casa, nem empréstimo na França. Só consegue se tiver fiadores ricos e boas garantias.

Passado o mês, comecei a me desesperar. Foi andando perdida na rua que achei uma agência onde eles alugavam apartamentos temporários. Eu me disse que poderia ser uma boa solução e que poderia ficar três meses num desses apartamentos esperando o período de aviso prévio passar.

Aluguei um apartamento (o olho da cara) no centro de Paris e como não tinha fiador, tive que pagar os meses de aluguel avançado (ainda bem que tinha economizado meu estágio).
Entro no apartamento num sábado, no domingo à noite (véspera do início da minha nova missão no trabalho) estou deitada dormindo e ouço um barulho de água caindo no chão.

Levanto com os pés na água quente e me desespero. Um dos canos de água quente se rompeu e minha casa estava sendo alagada em questão de minutos. Nessas situações não podemos nos desesperar, mas eu me desesperei. Bati na porta de todos os vizinhos, ninguém respondia. Liguei para os bombeiros e me mandaram ligar para um encanador.

Serviços na França são caros e não preciso nem dizer que uma intervenção no domingo à noite durante as férias escolares custou a « peau des fesses » (a pele do bumbum – expressão francesa para dizer que algo é caro).

Na segunda pela manhã começo na missão nova e já tenho que explicar para a chefe que preciso sair mais cedo para resolver problema de inundação … já começo queimando meu filme.

Passo na agência imobiliária para tentar usar a garantia que todo mundo faz quando entra num apartamento alugado e no final eles me reembolsam (pelo menos essa agência serviu para alguma coisa).

Uma semana antes de sair desse apartamento, depois de muita procura e com aviso prévio terminado, uma boa alma resolve alugar seu apartamento para uma jovem brasileira sem fiador.


Foi assim que eu achei meu cúbiculo francês onde passei três anos de alegria em Paris !!

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