25 de setembro de 2014

Leitura (8): Nossas separações

Minha mãe sempre diz : « não « gospe » para cima, porque cai na testa ». Cada vez mais acredito em ditos populares, pois eles são verdadeiros.

Aqui em Versalhes, eles passam coletando entulho toda segunda-feira. Então domingo, o pessoal coloca na rua coisas que querem jogar fora, o que gera um movimento de gente fuçando no lixo dos outros. E como diz minha irmã – « o lixo de uns é o tesouro de outros ».

Eu sempre abominei essa prática, pois o povo de Versalhes é dito ser rico e fino, mas todo domingo vários carros de luxo param nos cantos das casas para pegar a tranqueira alheia.

Eis que um dia meu cuspe cai na testa e volto para casa com umas tralhas achadas na rua …

Eu estava voltando para casa e me deparo com uma montanha de papelões e uns caras com vários livros na mão.
Livros ! Havia várias caixas com livros novinhos e alguns até embalados em plástico. Tudo do mesmo autor. Eram livros novos, jogados fora por não sei qual motivo. Peguei um exemplar de cada e voltei para casa com um misto de vergonha/felicidade no coração. Um prazer proibido …

Nossas separações é um desses livros, de um autor francês, até então desconhecido para mim, David Foenkinos.

Esse livro conta a história de um rapaz (Fritz) que encontra sua alma gêmea (Emilie), mas que não consegue viver harmoniosamente com ela. O tempo passa, eles se juntam, se separam e vice-versa, suas angústias e decepções amorosas são relatadas de maneira simples e fluída.

Gostei desse livro pela visão dos sentimentos de um homem da minha época. Um rapaz que poderia ser um dos meus amigos. Uma garota que poderia ser uma amiga minha. O livro retrata os dias de hoje, o começo de vida de estudantes que começam a trabalhar, que saem da casa dos pais e vão morar com o namorado/a.

« C’était la première fois que je me trouvais face à une telle douleur. Cet instant marquerait, pour toute ma vie, mon rapport aux femmes, mais je ne le savais encore. Je ne ferai plus jamais rien sans penser à la possibilité de la douleur. » - Fritz.

« Era a primeira vez que eu me encontrava diante de tamanha dor. Esse instante marcaria por toda minha vida, minha relação com as mulheres, mas eu ainda não sabia disso. Eu nunca farei mais nada sem pensar na possibilidade da dor » - Fritz.

A história não mostra uma visão melodramática do amor, mas sim uma visão realista, com sofrimentos e problemas reais, que qualquer poderia sentir. O enredo da história é cativante, mas sem pretensões.

« Les mains ne nous suffisant plus, nous sommes sortis. Il ne pleuvait plus. Nous sommes restés un long moment à nous serrer dans les bras l’un de l’autre, un moment qui dure encore maintenant. » - Fritz
 «  As mão não nos eram mais suficientes, nós saímos. Não chovia mais. Nós ficamos um longo momento nos abraçando um nos braços do outro, um momento que ainda dura. » - Fritz

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