7 de agosto de 2013

30 Memórias dos 30 (16)

Saudades,

Quando eu aprendia gramática na escola, os professores falavam que essa palavra, melhor, substantivo (uuuuhh) só existe em português.
Acreditei e acredito, apesar de existir nesse mundo centenas de línguas. É verdade que em francês e em inglês a “saudades” é expressada por um verbo : manquer e miss, respectivamente.

As vezes páro e fico pensando no sentido, mais precisamente no peso que têm as palavras. Saudades tem um peso grande, é pesada e ao mesmo tempo leve. Nostalgia não é igual saudades. Outro dia, um francês disse que nostalgie do francês era igual nossa saudades. Não é. Nostalgia não é igual.
Banzo não é igual, em francês é mal du pays (dor do país).

Bom, estou falando de saudades, pois hoje me deparei com uma saudades grande daquelas, de fazer chorar. Mas um chorar feliz, um chorar do fundo do coração.
Lembrei do meu avô, que não está mais nessa terra que o verme há de comer.

Lembrei e deu saudades. E chorei. E um filme passou na minha cabeça. E aí me deu medo de esquecer as boas lembranças, os momentos que vivemos juntos e que me marcaram. Porque se eu esquecer dessas lembranças, eu esqueço dele. Ai não tem mais saudades.

Então resolvi escrever o que lembro do meu avô. Só para garantir …

***
Passarinhos estavam baixando no quintal da frente, que eu adorava por causa dos tijolinhos (restos de piso de banheiro, cozinha que meu vô arranjava por ali e por lá) coloridos e misturados.
Eu olhava, olhava o vai e vem. Meu vô resolve armar uma arapuca, para ver se a gente pegava um passarinho.
Ele pega a peneira grande que ele tinha, para limpar areia e cascalho. Arranja um pedacinho de galho, do limoeiro que nos faz sombra. Pega um pedaço de fio, daqueles grossos, que estava no rolo que minha avó usava para fazer os tapetes redondos que toda a família tinha em algum cômodo da casa.

O fio é amarrado no tronco, o tronco suporta a peneira que fica meio no pau, meio no chão. Meu vô diz que precisava pegar um pedaço de pão, senão o passarinho não vem !
Pega um pedaço de pão e manda eu me esconder dentro da casa e ficar segurando o fiozinho. Quando o passarinho entrasse na arapuca para pegar o pão, eu tinha que ser ágil e puxar fio.

Não  era rápida, não peguei nenhum passarinho. Mas voltei para casa feliz de ter aprendido a fazer uma arapuca !

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