30 de outubro de 2013

30 Memórias dos 30 (28)

Quando era criança costumava passar uma parte das minhas férias no interior de São Paulo, na casa dos meus avós paternos.
Era uma bagunça, sempre havia um monte de gente : mil primos, mil tios e tias, mil pessoas que entravam e saiam da casa dia e noite, uma barulheira.
As vezes sinto falta disso, mas sinto principalmente falta da infância livre que eu tinha quando ia para lá e do contato com a natureza.

A vida de interior funciona num ritmo mais lento. A televisão não pegava direito, então eu passava o dia e a noite na rua, batendo papo com as pessoas, brincando como se não houvesse amanhã.

No fundo da casa dos meus avós havia um pomar/galinheiro e uma goiabeira.

O pé de goiaba servia de balanço. Uma grande corda e um pedaço de madeira transformavam nossas tardes em alegria (e brigas para ver de quem era a vez de balançar).

No pomar a gente fazia arte. Já construímos casa na árvore, mas como a gente não sabia montar nada nos galhos, colocamos as madeiras encostadas no tronco mesmo. Durante o dia a gente brincava de casinha e à noite tentávamos fazer fogueira, até que um adulto viesse nos impedir.

Atrás da casa dos meus avós havia um terreno meio abandonado, onde meu vô guardava o trator dele. As vezes passávamos o dia brincando em cima do trator, fingindo que estávamos passeando por fazendas. Minha mãe não gostava que eu passava por lá, pois tinha medo de cobras …

Teve uma época do ano que a cidade foi infestada por borboletas. Borboletas, mariposas de todos os tipos e tamanhos. A gente brincava de caçar borboleta com uma rede improvisada com um arame e saco plástico … hoje teria muita dó de pegar uma borboleta, elas são mais bonitas soltas.
No final, estávamos tão habituados em caçar as borboletas que fazíamos isso com a mão. Esperávamos elas se fecharem e com dois dedos elas estavam nas nossas mãos. Tínha que tomar cuidado para não olhar para a borboleta, pois diziam que ela soltava um líquido que cegava (criança acredita em tudo) !!!
A borboleta que mais me impressionou foi aquela com olho de coruja nas asas. Fiquei emocionada quando a vi cara a cara.  Que tinha visto em livros era realidade e existia !

Outra vez a cidade foi infestada por sapos. Pronto já era diversão garantida sair com uma pá cheia de sal para tacar nos sapos e afastá-los. Crianças podem ser muito cruéis !

Lembro que também quando saíamos da cidade e íamos para o sítio, tomar banho de rio. Minha mãe odiava isso, acho que ela tinha medo que eu pegasse vermes. No final ela tinha razão, a gente nadava em rios ao lado das vacas e para pegar uma esquistossomose ou tênia era facinho facinho. Nunca tive nada, talvez por sorte.
Eu me sentia livre e adorava ver na prática o que aprendia nos livros, sobretudo em termos de animais e plantas. Já até vi uma cobra coral e tentei descobrir se era uma verdadeira ou falsa … não lembro da minha conclusão !


Infância de cidade não é mesma coisa que infância no campo. Neste último você é mais livre, tem contato com a natureza e aprende a se defender e se virar melhor. Tem coisas que os livros não ensinam. 

Ubirajara - 02/10: Fazenda.

Nenhum comentário: